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Segunda Sem Carne (Sobre Causas e o Papel da Universidade) (Alma)
04/05/2015 - Por fernando de mesquita sampaioAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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atarax hidroxizina http://mindstedosishvor.website/mindste-dosis-atarax atarax receptCaros amigos,
Ótima iniciativa a deste blog por e para esalqueanos.
Meu primeiro post aqui poderia ser, a exemplo de outros
ilustres ex-alunos, sobre os meus bons tempos em Piracicaba, os amigos, os
causos divertidos, e tantas outras coisas boas que nossa vivência na Gloriosa
nos proporcionou.
Infelizmente não será. Meu post de hoje é sobre uma
decepção.
Meu nome é Alma, formado em Engenharia Agronômica em 1997. Hoje
sou diretor executivo da Abiec, a Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carne, entidade que há 35 anos representa a indústria da carne
bovina no país, responsável por exportações de US$ 7,2 bilhões, uma cadeia de
valor de US$ 170 bilhões e mais de 2 milhões de empregos no Brasil.
Soube, por uma foto no Facebook do Centro Acadêmico Luiz de Queiroz que o restaurante universitário da ESALQ terá a partir de agora um dia sem carne..
Segundo a presidente do Centro Acadêmico, a Kuxixa, o CALQ está apoiando e tentando trazer para a ESALQ a iniciativa da "Segunda sem Carne".
Ainda segundo as
palavras da presidente, em email ao grupo Esalqueanos de São Paulo:
"A ideia não é
falar para que as pessoas parem de comer carne e sim que diminuam o seu
consumo, pois consumimos carne demais. Tem pessoas que apoiam , outras não.
Acreditamos que um dia sem carne no RUCAS não vai matar ninguém porém faz uma
diferença muito grande se pensarmos em impactos ambientais da produção de
carne. "
Fonte: Facebook do CALQ
Antes de mais nada, um preâmbulo. Sabemos todos que temas como esse despertam emoções e retóricas exacerbadas. Antes que me acusem de advogar em interesse próprio, e de ser um porco reacionário, anti-democrático, inimigo do bom, do belo, do justo, da natureza e etc, deixem-me esclarecer previamente algumas coisas:
Não tenho
absolutamente nada contra vegetarianos. Tenho amigos vegetarianos. Assim como
não tenho nada contra budistas, nem contra eleitores do PSOL, nem contra
torcedores do Guarani. Não tenho nenhuma pretensão em influenciar decisões de
foro privado, sejam elas quais forem, e aliás serei o primeiro a defender o
direito de indivíduos livres tomarem suas próprias decisões. Sou sim contra a militância que quer transformar
causas, quaisquer que sejam elas, em padrão moral para o resto da humanidade. Nisso reside a raiz de toda
intolerância e autoritarismo.
Este post não é
sobre pessoas que acreditam ou não que o vegetarianismo faz o mundo melhor, com
base nas próprias convicções.
É simplesmente
sobre a incongruência da iniciativa em si com a própria definição de uma Universidade. Especialmente de uma Escola de Agricultura.
Pecuária causa
aquecimento global. Pecuária polui mais que transportes. Pecuária desmata. Um
kg de carne usa 15.000 l de água. É mesmo? Estava no folheto de alguma ONG? Como
os cálculos foram feitos? Qual está certo, o GTP ou GWP para converter metano
em CO2? Quanto de carbono pastagens capturam? Qual a influência da falta de
gestão territorial no desmatamento? Quanto de xixi um boi faz?
Outro dia o Big
Ben, de quem tenho a hora de ser colega de turma publicou um excelente artigo no Estadão sobre a
pecuária e carbono das pastagens. Pesquisem.
Não tenho a intenção
de criar aqui uma celeuma com artigos e dados sendo disparados de lado a lado.
A internet não é lugar para isso. Mas a Universidade é, e que eu me lembre a
ESALQ ainda é uma. Provoquem a discussão, argumentem, pesquisem. O que a
meteorologia tem a dizer a respeito? O que a zootecnia tem a dizer a respeito?
O que o Gerd Sparovek pode contar? O que o Cerri no CENA pode dizer? Eles tem pesquisado tudo isso. A ciência é feita de perguntas e de curiosidade. A Universidade é feita para e pela Ciência. Vocês
estão no melhor ambiente para isso!
Consumimos
carne demais? Nós quem? A classe média alta dos alunos da ESALQ? O Brasil? O
mundo?
Eu vivi em
lugares como o Piauí, onde vi crianças comendo caju com farinha porque não
havia mais nada a comer. Crianças que não conseguiam prestar atenção na aula ou
desenvolverem-se fisicamente por falta de proteína no corpo e no cérebro.
Visitei lugares
semelhantes na África e na Ásia.
Se hoje podemos
nos dar ao luxo de ter um prato-feito com um bife de contra-filé por R$ 15,00 em
qualquer restaurante no interior do Brasil é graças a instituições como a
ESALQ.
Pecuária tem
impacto? Sim. Como toda atividade humana.
Mas a missão da
Escola sempre foi fazer mais e fazer melhor. Se hoje a pecuária consegue produzir
cada vez mais usando cada vez menos recursos é porque repousamos sobre mais de
um século de pesquisa agropecuária.
Minha indústria vive do sacrifício de animais? Sim, e o fazemos para que outras pessoas possam viver. E é nossa obrigação fazê-lo da forma mais humana possível, e a pesquisa acadêmica pode contribuir para isso.
Isso tudo eu entendo que seja o papel da Universidade. Pesquisar, debater, buscar soluções, criar conhecimento enfim. A ESALQ pode e deve estudar e trabalhar para minimizar os impactos da agropecuária para o ambiente. Mas não vai fazer isso com proselitismo barato repetindo chavões de ativistas, nem empurrando goela abaixo uma Segunda Sem Carne à comunidade dos alunos da Escola. Quem decidiu? O que pensa a maioria dos alunos a respeito? Com base em que tipo de informação? Com que apoio? Quem mediu esse impacto? Deixemos os slogans para a militância. Não cabe na Universidade.
E que esse
proselitismo tenha o respaldo do representante máximo do corpo discente da
ESALQ, uma Escola criada com a missão sagrada de produzir, é simplesmente vergonhoso.
Fernando Sampaio (Alma F97), é Engenheiro Agrônomo e Diretor Executivo da Abiec, Ex Morador da República Lesma Lerda